quinta-feira, 27 de março de 2008

Um Homem Iluminado

Havia um jovem, de olhos negros como a noite, e grandes, que impressionavam quem os via, de cabelo liso e preto. Seus traços eram finos, sua pele suave, seu andar vívido, assim como a maioria dos jovens. Sempre acompanhado de adornos preciosos em seu corpo e vestido do melhor tecido encontrado em sua nação, este jovem não conhecia a dor, a pobreza, a tristeza, pois sempre esteve enclausurado no reino em qual vivia, acompanhado de sua família, e dos soldados que muito bem guardavam os portões deste local. Este jovem passava seus anos sempre da mesma maneira, vivendo em um mundo à par da verdadeira realidade, rodeado de guardas, alimentando-se do melhor que pudera haver, um príncipe de fato, o palácio em que morava era suntuoso, constuído com tudo que havia de melhor, salões imensos, estátuas em tamanho real, decorado com as mais invejáveis pedras preciosas, plantas de imensa beleza, e chafarizes de água tão límpida, que refletiam a imagem de qualquer ser. Mas sua mente era rodeada de dúvidas, questionamentos, e quanto mais esse nobre jovem crescia, mais surgiam dúvidas, mais ele desejava conhecer o mundo de ''verdade''.
Então, certo dia, com a chegada da noite, mais exatamente pela madrugada, este jovem escapoliu por entre os portões, enquanto dormia os soldados responsáveis pela guarda do mesmo, pela primeira vez este jovem entrou em contato com tudo que havia no mundo, com tudo que ele desejara conhecer. E isso, de fato o chocou, o impressionou, seus olhos avistaram coisas que ele jamais conhecera, a dor de um enfermo, a pobreza de um infortunado, a sujeira das ruas, a discussão, a briga, e isso tudo causara tamanha mudança em seu interior, o belo jovem nunca mais seria o mesmo.
Sua família continuaria a trata-lo da mesma forma, seus amigos, o lugar, tudo continuava a ser regido da mesma forma, porém sua mente nunca esteve em contato tão profundo para consigo próprio, os jogos, a diversão, tudo que ele costumava participar no palácio em qual vivia, não parecia fazer mais sentido à sua existência.
Seus familiares e amigos notaram que o jovem de olhos grandes não era mais o mesmo, contudo, não entendiam o que causara tamanha mudança no mesmo, e o vinham cada vez mais dedicado à leituras, pensamentos, reflexões, dentre outras atividades, nada compatíveis para com a sua idade.
Certo dia, o jovem olhara com profundidade para os adornos dourados que se espalhavam em seu corpo, e se questionava em voz alta: -Não entendo o porque destes enfeites em meu corpo, eles não me fazem bem algum, eles não me transformam em um ser melhor, não os quero como parte de mim, os retirarei, somente a manta me cobrirá, a partir de agora.
Sua mãe ouvira, palavra por palavra, e percebia de forma esclarecedora que seu amado filho mudara, assim como a noite se transforma em dia, assim como a morte se transforma em vida.
Completou-se um ano e alguns meses após a ida do jovem às ruas de seu país, desde então, apesar da desconfiança da mudança, das conversas que aconteciam nos corredores do palácio entre a família do jovem, ninguém se colocara de forma a questiona-lo diretamente, até que certo dia, seu primo, o ente mais próximo e amigo deste jovem, deparava-se com o mesmo no exuberante jardim do palácio, e perguntara sem pudor: -Amado primo, o que está acontecendo com você, porque tamanha mudança em seu comportamento, porque pouco fala, e nossas brincadeiras, nossos jogos, nunca mais se interessou, vejo apenas caminhando pelos corredores do palácio, como quem anda sem destino, despiu-se de tuas jóias, sentas no jardim, sozinho e parece conversar com as rosas, como se delas arrancasse palavras, diga-me primo, o que te aflige?
O jovem, de maneira tranquila respondera à seu primo sem ponderar: _ Primo, sabes que te amo, do fundo de meu coração, não sabe?! Não estou triste, não esqueci do carinho de minha família, nem de você, quanto as jóias, as retirei porque não vejo benefício algum em usa-las, é apenas uma forma de destacar-me dos demais, e o que desejo é ser comum, como a roupa de um pobre, é ser livre, como um pássaro e sútil como esta rosa que aprecio, é isto que procuro, meu primo.
E então após mais uns dois ou três meses, o jovem deixava o palácio, com o consentimento de sua família, apesar da discordância.
E assim, o jovem tomava as ruas por completo, conhecia a gente comum que desejava, buscou o alto conhecimento, as explicações para os seus questionamentos, a liberdade para a sua alma, andando e apreciando a sutileza das flores e rosas que sempre o acompanhavam, aprendeu a meditar, tornou-se um sábio adulto, despindo-se de qualquer vaidade ou orgulho que pudesse transvia-lo.
As tentações foram muitas, o julgaram como um ser divino, como um deus em forma de gente, mas nada disso a ele interessava, ele só desejava a paz interior, o auto-conhecimento, a verdade absoluta e liberdade.
Levava às pessoas a sua bondade, uniu-se à grupos, derrubou antigos conceitos, filosofou, sem em momento algum se vangloriar, sem momento algum pensar que era superior a qualquer um de seus companheiros.
Com o tempo o jovem envelhecera, até tornar-se um idoso, sempre dedicando-se ao esclarecimento das pessoas, quanto as dúvidas relacionadas à vida e à morte, sem exitar um momento sequer quanto ao seu dever, julgado como um martírio por muitos, mas um enorme prazer para ele.
E em certa manhã, levantara junto com o sol, que parecia o cumprimentar, banhou-se nas águas límpidas e calmas de um riacho, próximo ao retiro que se encontrava, tomou chá com seus companheiros, conversaram sobre as coisas simples da existência humana, e lá pela tarde, decidiram meditar.
O clima era ameno, o sól despedia-se deste puro homem e seu grupo, o capim era verde e suave, como um tapete, a paz se mostrava ali presente. O agora ancião, encontrava-se em meio à duas enormes árvores de aparência exuberante, cobertas de flores de pétalas suaves e da mesma coloração do entardecer do sol.
O ancião iluminado, sentira que de fato, era o seu último suspiro como homem, que este era o último momento que lhe prenderia à carne, e assim, ele deitava-se, de forma sutil, e deixava a vida terrena, deixava o corpo de velho, e voava em direção à tantos outros mundos que lhe aguardavam.

4 comentários:

Anônimo disse...

Oi Romulo,

Adorei o seu novo Blog, Fábrica de Emoções, e igualmente o seu amadurecimento estilístico.

Meu amigo, onde você buscou inspiração para este conto?
Simplesmente Maravilhoso!!! Adorei!!!

Bom, como já lhe disse antes, mas penso que não custa nada relembra:
Você tem talento natural com as palavras escritas, portanto deve explorar isto ao máximo, já que é um desperdício desprezar este dom nato que é todo seu e que reside na essência de sua alma.
Portanto meu amigo continue escrevendo sempre, e se possível não deixe de publicar seus escritos. O seu ensaio como blogueiro mostra o quanto vc tem amadurecido, e vai amadurecer ainda mais quando pública em livro os seus testos.
Li no seu blog anterior a sugestão de alguém para escrever contos, vejo que aceitou...
Então agora, sou quem sugiro: Que tal começar escreve Romances?
Parabéns continue assim, evoluindo sempre.
bjs no coração.

Anônimo disse...

Desculpa!
Escrevi "testos" Mais o correto é: Textos. hehehehe...

Anônimo disse...

Oii Pig!!
Sou suspeita p/ falar do seu talento maravilhoso de expressar em palavras tudo aquilo que sentimos, mas que não conseguimos ao menos entender.

Perfeito!

Te adoro!

Beijos.

Panda.

Unknown disse...

Se as pessoas fossem como este homem do seu conto o mundo seria perfeito!Mas infelizmente a maioria das pessoas só dão valor à bens materias, e acabam esquecendo o que realmente importa na vida..:(

bjsss,
Patrícia