quinta-feira, 20 de março de 2008

A Verdade e a Mentira

A verdade e a mentira são irmãs, irmãs gêmeas, nascidas de berço nobre, alimentando-se do mesmo pão, compartilhando da mesma criação. Ambas desfrutavam de uma criação igual, terna, amorosa e sábia, por parte do pai, a Sinceridade, que desejava ve-las no comando do reinado, no qual a família morava, levando sempre os bons conceitos aprendidos à diante, sempre fazendo deste reinado, um território de paz e harmonia entre seus habitantes. Entretanto, a criação por parte da mãe, a Ganância, sempre fora baseada em ensinamentos disformes, confusos e questionáveis quanto ao compromisso para com a honra e a verdade, conceitos imprencendíveis por parte de seu pai. O tempo se passava, a Verdade e a Mentira cresciam juntas, e cada vez mais tinham maior contato com o mundo externo, além do reinado governado por seus pais, contato este que trouxera diferentes resultados para cada uma das meninas, que chegavam à adolescência. A Verdade, justa, honrada, sempre com uma visão sóbria e o mais imparcial possível, diante dos problemas, levava aos moradores do reinado paz, ensinamentos evoluídos, conceitos de nobreza, dentre outros, sendo observada por seu pai, que via em sua filha, o ser mais nobre para levar à paz ao reino, que sempre se mantera em harmonia.
Na calada da noite, quando dormiam os justos, a Ganância e a Mentira tomavam as ruas do reinado, usavam de uma lábia sem igual, de um palavreado único, além de suas personalidades duvidosas, conquistando primeiramente os vagabundos e moribundos, que nada temiam ou tinham a perder.
O tempo se passou, a Mentira e a Verdade se tornavam mulheres por completo, enquanto, seus pais atingiam a velhice.
As mudanças no reinado estavam cada vez mais nítidas a olho nú, muitos daqueles que declaravam-se servos e aliados do rei, agora aliavam-se à outros reinos, e quando não sumiam por completo, sem deixar vestígio algum. Um belo dia, o rei Sinceridade, almoçava, preparando-se para encontrar-se com os moradores do reino, pois o mesmo desconfiava da ação furtiva de sua esposa e sua filha, a Mentira. A sua alimentação fora simples como a de um pebleu, apenas um cálice de vinho nobre o distinguia de um súdito, vinho este que o levaria à morte horas depois.
Sua esposa e sua filha, a Mentira, haviam envenenado a sua bebida, para ter então caminho livre para por seus planos em ação. A Verdade, estava em outras nações amigas, levando sempre belas palavras à outras pessoas que precisavam de conforto e aprendizado.
Quando retornava ao reinado e tomava ciência da morte de seu pai, fora tomada por uma dor súbita, tão forte quanto o corte de uma espada, mas com a sobriedade que lhe regia, não deixou a tristeza e a emoção descontrolar a estrada que havia definido para sua vida, levar o bem e a jusitiça sempre à diante, custe o que custar.
Eis que morre a Ganância, mãe das princesas, deixando então o controle do reinado nas mãos das belas mulheres, fisicamente, pois internamente, a Mentira era tão disforme quanto qualquer outra coisa.
Apesar da desconfiança da Verdade quanto a honra de sua irmã, o seu coração bom e o fato de terem vindo do mesmo ventre, impediu que notasse que estava sendo enredada por sua irmã, um futuro nada próspero a esperava.
Aparentemente, havia a mesma paz, harmonia e justiça que outrora existia no mesmo, porém as coisas fervilhavam, e logo mudanças surgiriam.
A Mentira, fazia questao de andar junto dos habitantes do reinado, partilhavam o pão, as doava roupas e sempre trocava muitas palavras com os seus súditos, palavras de beleza imensurável, mas de conteúdo duvidoso.
A Mentira era egoísta e gananciosa demais para querer dividir o trono de um reino, mesmo que seja com a sua irmã gêmea.
As reclamações surgiram, brigas, confusões, pobreza, avareza, falsidade, o reinado que parecia um pequeno pedaço do paraíso, encontrava-se em estado de decomposição.
Enquanto a Verdade doava-se de corpo e alma para trazer a paz de volta ao reino, a Mentira, tratava de a contrariar, contando com a ajuda de espiões que a auxiliavam dia e noite, pondo em prática com louvor o seu plano de conquistar o controle total do reinado.
As flores morriam, os animais entravam em extinção, a fome crescia, até o ar mudara de cor e cheiro, tudo mudara, o reinado confiado às irmãs, tornava-se cada vez mais um lugar dominado pelos maus sentimentos e pelas más pessoas.
E cada investida da Verdade para controlar o caos no qual vivia, ao invés de trazer resultados positivos, trazia cada vez mais inimigos, que bradavam insultos sem piedade alguma.
Era nítido que a mentira havia assumido o posto de rainha, mandava e desmandava na vida de todos que ali viviam. O seu ego, a sua vaidade nunca fora contemplada de forma tãp avassaladora.
Passaram 35 anos, desde que as irmãs assumiram o trono do reinado, e nunca a Verdade fora tão desprestígiada no recinto, assim como a Mentira nunca fora tão forte, além de que, o reinado cada vez mais sucumbia, a cada dia que passava.
Certo dia, ao acordar em seu aposento, a Verdade mal habrira seus olhos, e encontrava-se diante de sua irmã Gêmea e muitos guardas reais, responsáveis pela defesa do reinado. Assustada, ela previa que algo de ruim estava por vir, enquanto isso, sua irmã apresentava um sorriso largo, mas que não continha bondade alguma.
A Verdade questionara o porque de ser acordada tão cedo e de forma tão brusca, sua irmã apenas ria, e dizia que a amava, e que não considerasse esse momento histórico como um ato ruim, e sim como necessário para o progresso do reinado. Logo após essas palavras, a Verdade fora assassinada pelos guardas reais.
Nunca fora dito o que matou a rainha Verdade, sua morte transformou-se num mito, um enígma, mas o que permaneceu, foi a maldade e falta de Caráter da Mentira que transformou o Reinado puro e singelo, num inferno sem fim, governando o reinado ao seu belprazer.

2 comentários:

Unknown disse...

Nossa, q conto massa!
Pois é, numa sociedade tão corrupta e desigual em que vivemos, assistimos, assim como no seu conto, a vitória da
mentira sobre a verdade cada vez mais.

Unknown disse...

Estou estupefata!!!!!
Muito interessante e algo que nos remete a uma reflexão severa acerca de nossas atitudes nos dias de hoje!!!!
Maravilhoso conto!!!!!
Parabéns!!!!!